Independentemente das actualizações mais ou menos frequentes deste espaço de comunhão e exaltação vitoriana, a vida da mais carismática e acarinhada instituição setubalense não tem parado e as alegrias vão-se sucedendo com regularidade, apesar de algumas contrariedades e momentos menos bons.
Quase 3 meses após as últimas eleições no Vitória Futebol Clube, a Direcção e SAD, numa iniciativa que se louva, retomaram o hábito da Direcção presidida por Jorge Goes, que a gerência de Chumbita Nunes esqueceu, e reuniram informalmente com os sócios do Clube no Fórum Luísa Tody, numa sessão de esclarecimento que contou com mais de 500 associados do Vitória.
Nota muito positiva para a exposição feita por um funcionário recém contratado para a área financeira, que de uma forma clara, transparente e sucinta traçou o panorama das finanças do grupo Vitória, que infelizmente, tal como sabemos e ouvimos há já vários anos, continuam sem motivos para fazer sorrir os associados e dirigentes, apesar de ser de destacar a existência de resultados positivos nos exercícios mais recentes, o que permite concluir que, ultrapassados e corrigidos os erros do passado, a instituição Vitória Futebol Clube é viável, proveitosa e apetecível, se gerida com competência e realismo.
Já que na área do futebol, como é evidente, já se percebeu que não é preciso mexer muito: a estrutura é coesa, competente e apresenta resultados, caberá então aos actuais dirigentes apresentar soluções e ideias que permitam sanear as debilitadas contas vitorianas.
E foi isso que o Presidente do Vitória fez na segunda parte da sessão.
Apresentou, auxiliado por diapositivos, o projecto imobiliário e do novo Estádio do Vitória, na zona actual do Estádio do Bonfim, que uma vez concretizado proporcionará a viabilidade financeira que o projecto“ Vitória Sec. XXI” não soube proporcionar ao Vitória.
Confesso que como vitoriano e setubalense fiquei emocionado com o que vi e ouvi. Na verdade, a beleza do desenho do novo Estádio, o enquadramento notável com a área circundante e a possibilidade de concretização do sonho de todos os vitorianos de manter o Estádio do Bonfim no Bonfim, são motivos mais do que suficientes, para que todos os setubalenses se unam e impeçam que, uma vez mais os poderes públicos, que supostamente deviam estar ao serviço das populações, coarctem ao Vitória de Setúbal e aos setubalenses as hipóteses de se desenvolverem em condições harmoniosas, integradas e sustentadas, permitindo que o Clube continue a servir a Cidade e esta a apoiar e fomentar o desenvolvimento do Vitória sadino.
Os meus Parabéns aos dirigentes, o meu agradecimento e o meu apoio pela apresentação e promessa de lutar até ás últimas forças pela concretização do sonho do Bonfim no Bonfim.
No que restou de sessão destaque para as intervenções correctas, sérias e apaixonadas dos sócios do Vitória que opinaram, apoiaram e interrogaram os dirigentes ( os que deram a cara, pois outros houve que se sentaram discretamente na plateia, outros que primaram pela ausência e ficámos a saber que houve um que até já se demitiu) sobre assuntos da vida diária do Vitória.
Nota menos positiva para o responsável pelo Marketing, que inicialmente estava na plateia, pois respondeu às perguntas colocadas de forma fugaz, contraditória, pouco clara e com uma arrogância que fica mal a um rapaz tão novo. Contudo apreciei a sua auto-confiança e convicção e espero sinceramente que os rumores, quanto a um possível auto benefício com alguns dos serviços prestados ou a prestar ao Vitória não sejam verdadeiros, pois fazê-lo às escondidas sob a capa da moralidade é pior do que os mais graves erros do anterior Presidente.
A sessão finalizou num clima de grande satisfação e esperança vitoriana num futuro melhor e com a convicção em todos de que apenas com os Vitorianos e os setubalenses unidos será possível levar avante um projecto que tem tanto de ambicioso como de merecido.
No dia seguinte e sob o olhar atento do Presidente do Vitória a equipa de andebol do Vitória foi ao Restelo lutar pelo continuidade em prova e fê-lo de forma exemplar, apesar de não ter conseguido os seus intentos. Depois da pesada derrota em Setúbal no Jogo 1, os pupilos de Jorge Rodrigues encararam com muita determinação e abnegação esta partida e proporcionaram ao composto Acácio Rosa um excelente e emotivo espectáculo de andebol, onde a continuidade do Vitória em prova foi impedida pelo braço do Guarda-redes do Belenenses no último segundo da partida, após remate do vitoriano internacional português Vladimir Bolotskikh.
A exibição da equipa do Vitória apesar da derrota tangencial encheu de orgulho as 3 dezenas de apoiantes que se deslocaram ao Restelo e deixam água na boca para os desafios que ainda restam esta época.
No próximo dia 22 de Abril o Vitória discutirá com o Águas Santas, no Jogo 1, o 5º e 6º posto do campeonato e no dia 25 de Abril deslocar-se-á a Leiria em jogo a contar para os oitavos de final da Taça de Portugal. Em caso de vitória, o jogo dos quartos de final, que permitirá o apuramento para a final four desta competição, realizar-se-á em Setúbal com o vencedor do encontro entre o S. Bernardo e o SL Benfica.
Após o primeiro dia de trabalho da semana ter sido encurtado para metade, chego ao bonito e quase cheio Estádio dos Arcos em Vila do Conde e nem tive tempo para assentar arraiais, já a turma local se adiantava no marcador.
Imitando a estratégia utilizada no ano passado e que bons resultados deu, a formação vila-condense entrou determinada a marcar o primeiro golo antes dos 5 minutos e passar 85 a defender com o autocarro que noutros tempos diziam que andava ao serviço do Vitória.
E foi o que sucedeu, Agostinho aos 3 minutos concluiu uma bonita e rápida jogada do ataque do Rio Ave e a partir daí o Vitória tomou conta do jogo, diga-se em abono da verdade sem carregar muito, mas controlando totalmente as operações e perseguindo sempre, umas vezes com mais determinação que outras, o tento da igualdade.
O treinador Hélio Sousa havia alertado para os perigos de uma possível descompressão, após o jogo com a Naval e sabia do que falava.
No fim do jogo assumiu que foi isso que aconteceu, repreendeu os seus jogadores e prometeu que o campeonato do Vitória ainda não está terminado e lançou o mote para o jogo com o Braga.
Ainda durante a semana passada, o mundo vitoriano foi abalado com a notícia do falecimento de um menino de 13 anos, Fábio Paixão, sócio e adepto apaixonado do Vitória, vítima de uma leucemia contra a qual lutava há já 5 anos.
Há notícias que não deviam existir e injustiças que jamais entenderemos. Aqui a homenagem mais que merecida a quem de certeza mereceria poder ver ainda muitos mais golos do Vitória.
E no primeiro jogo após o desaparecimento do Fábio, esta noite, os jogadores do Vitória, profundamente emocionados com o minuto de silêncio em homenagem ao amigo Fábio, que visitaram no IPO há uns meses atrás, imbuídos quiçá, do apoio extra de um menino que só gostava de ver o seu Vitória ganhar, arrancaram uma exibição deslumbrante, guerreira, talentosa, digna de figurar no álbum das memórias eternas do Vitória, uma vitória que foi inteirinha para o Fábio e três pontos que deixam intactas as aspirações do Vitória de continuar a lutar pelo 5º lugar do campeonato.
Perante uma bancada central descoberta a fervilhar de tranquilidade, a exibição de gala do Vitória e as inenarráveis asneiras do árbitro maçarico Nuno Afonso e seus auxiliares, empolgaram os adeptos e condimentaram ainda com mais emotividade esta bela partida de futebol.
Com um início deslumbrante, avassalador e descomplexado os comandados de Hélio Sousa assumiram o controlo e as despesas do jogo e fizeram-no bem, com classe, categoria e grande espírito de entreajuda, para gáudio dos exigentes aficionados sadinos, que viram a primeira grande jogada de perigo na sequência de um magnífico passe de desmarcação de Ricardo Chaves para Bruno Ribeiro, já na pequena área, proporcionar a primeira grande defesa da noite ao fiteiro e tresloucado Paulo Santos.
Momentos depois, numa fabulosa jogada do ataque do Vitória, após sucessivas combinações e tabelinhas entre os jogadores vitorianos, Carlitos marca o primeiro da noite e o auxiliar Carlos do Carmo obriga Nuno Afonso a cometer a primeira grande asneira da noite, invalidando o golo do Vitória, obtido de forma absolutamente regular.
O Braga tentava reagir como podia, mas a coesão da zona intermediária que estancava o jogo adversário e lançava e fazia fluir o ataque do Vitória, bem como a solidez dos rapazes da defensiva – já faltam adjectivos para qualificar a excelência do desempenho deste quarteto composto por Janício, Veríssimo, Auri e Adalto – impediam a turma arsenalista de incomodar o guarda-redes Rubinho.
Chegámos ao intervalo com aplausos fortíssimos para a equipa vitoriana e apupos e assobios para o trio de arbitragem. Em ambos os casos perfeitamente justificados.
A etapa complementar trouxe mais do mesmo: bom futebol, vontade de ambas as equipas, qualidade nos dois conjuntos e superioridade vitoriana frente a um Braga de milhões que este ano já foi candidato ao título, a um lugar directo na Champions, a um lugar indirecto na Champions e que depois desta noite em Setúbal será candidato a nada.
O golo que ditaria o destino do jogo, chegou aos 51 minutos e na sequência de uma jogada bastante ensaiada pela equipa vitoriana na era pós – Norton e que hoje finalmente deu os seus frutos. Na cobrança de um livre, Adalto toma balanço, finge rematar e dá um toque para Carlitos que de costas para a baliza junto à bola, rodopia e desfere um pontapé fulminante que fez a bola entrar com violência junto ao poste e deixando Paulo Santos pregado à verde relva do Bonfim.
Um golo monumental a selar uma exibição e um resultado dignos do mesmo adjectivo, confirmado pelo que restava de jogo, onde o Vitória não se retraiu e continuou, suportado nas fantásticas exibições de Ribeiro, Carlitos e especialmente Varela, a causar pânico junto à baliza de Paulo Santos e a deixar verdadeiramente de rastos os defesas bracarenses, até ao minuto 90.
Notas negativas: - para o speaker de serviço no som do Estádio, que não só não deu informação nenhuma relativa ao motivo do minuto de silêncio, como ainda chamou ao Vitória, Setúbal….
-Incompreensivelmente, na minha opinião, a salva de palmas que os sócios cativos dispensaram ao jogador do Braga Frechaut, produto da escola Vitória, que não só saiu do clube que o formou para representar um clube que o roubou ( título de juniores que o Vitória ganhou, mas em que o troféu foi entregue ao Boavista), como esta noite ainda tentou simular um penalty, roubando ele desta forma o clube que o formou e do qual se diz adepto.
-Exibição péssima do trio de arbitragem sempre em prejuízo do Vitória. Para além do golo mal anulado, não descortinou uma grande penalidade clara sobre Veríssimo, para além da quantidade infindável de faltas inventadas e do estúpido e exageradíssimo número de cartões amarelos mostrados à equipa do Vitória, que curiosamente, ou talvez não é simplesmente e pelo segundo ano consecutivo a equipa com menos amarelos de toda a competição e líder da tabela do Fair Play.
Esta noite o Vitória chegou aos 45 pontos e ainda restam 4 jornadas antes da desejada final do Jamor e quanto a mim agora que se começam a notar os sinais caracterizadores da mentalidade e estilo de jogo do novo treinador do Vitória, não restam dúvidas quanto à capacidade e competência da equipa técnica.
Herdando uma equipa destroçada psicologicamente, sem ordenados em dia, sem alguns dos titulares que entretanto abandonaram o clube, sem o treinador que iniciara a época e jogando um futebol eficaz, mas excessivamente defensivo e pouco atractivo, Hélio Sousa, auxiliado pelo saber empírico do grande Cardoso e pela, não me canso de o repetir, grande competência e capacidade do João de Deus, agarrou com as duas mãos o apelo e a oportunidade que lhe surgiu e de forma serena, gradual e inteligente foi implementando os seus métodos, as suas ideias e os seus conceitos de jogo. O resultado, da observação atenta dos últimos jogos do Vitória concluo-o facilmente, é um futebol de ataque, ofensivo, atraente, envolvente e acutilante, um futebol que alia o espectáculo aos resultados que no fundo é aquilo que em Setúbal apreciamos, contrastando claramente com o Vitória da primeira volta.
Ao senhor Luís Norton de Matos que dizia que não podia jogar futebol ofensivo porque não tinha jogadores para isso, Hélio Sousa e o Vitória de Setúbal souberam ultrapassar as dificuldades que esse ingrato gerou, deram-lhe uma chapada de luva branca e tornaram evidentes as limitações técnicas e conceptuais de quem em tempos, felizmente poucos, foi treinador do Vitória
Falta apenas referir que para além de grandes profissionais, estes membros da equipa técnica são todos grandes e efusivos vitorianos, sócios com várias dezenas de anos e com o resultado desta noite o Vitória garante oficialmente o direito desportivo de competir na próxima edição da Taça UEFA.
Que mais podemos pedir?
Sexta-feira é no Restelo, 17h15
Só temos de continuar a fazer a nossa parte.
Saudações Vitorianas
Spry
segunda-feira, abril 10, 2006
quinta-feira, março 30, 2006
Vamos fazer a nossa parte!!!
Terminada a euforia da conquista do direito de defender a Taça, conquistada o ano passado no Estádio Nacional, no próximo dia 14 de Maio, a equipa profissional de futebol do Vitória, ciente, independentemente do orçamento, de ter cumprido a obrigação de se ter apurado para a final da Taça, não entrou em festejos desmedidos, arregaçou as mangas e preparou com entusiasmo e muito rigor, a recepção à aflita Naval 1º de Maio da Figueira da Foz, que gratas recordações nos costuma deixar.
O resultado da seriedade e profissionalismo dos jogadores, dos novos métodos, estilo e concepção de jogo do treinador e da excelência do trabalho do preparador físico tiveram como consequência uma bela jornada de futebol vitoriano, ofensivo, alegre e rápido que teve como consequência 3-0 aos 20 minutos de jogo e um placard final de 4-1, meras 67 horas após a meia final de 120 minutos da passada Quinta-Feira.
Os sócios voltaram a marcar presença em número razoável, mas ainda longe daquilo que há bem poucos anos podíamos observar no Bonfim, onde as assistências médias rondavam os 15 mil espectadores.
Tal como aqui escrevi há uns dias,e uma vez que a permanência há muito que está garantida, é hoje evidente e notório que o 5º lugar está ainda perfeitamente ao alcance do Vitória,considero pois imperativo moral de jogadores, sócios e dirigentes, que todos nos unamos e mobilizemos não só para a final do próximo 14 de Maio, mas também para ajudarmos o Enorme Vitória Futebol Clube, no que ainda falta de campeonato, a conquistar uma classificação honrosa, feito histórico e grandioso, se tivermos em linha de conta as vicissitudes e potencial económico desta quase centenária instituição setubalense.
A presença em Vila do Conde na próxima Segunda - Feira é fundamental, bem sei que o horário não ajuda, mas os nossos esforços e sacrifícios pelo Vitória também nunca são demais.
Antes do jogo com a Naval 1º de Maio em futebol, os sócios do Vitória deslocaram-se pela manhã de Domingo em número razoável, ao pavilhão Antoine Velge, para assistirem, tudo assim o indiciava, a um excelente e emotivo jogo de andebol, que contava para o primeiro jogo do Playoff frente ao Belenenses.
A equipa do Vitória, com 3 ou 4 jogadores fundamentais no estaleiro há já alguns meses, foi incapaz de se opor ao conjunto do Restelo da mesma forma a que nos tinha habituado em jornadas anteriores.
Com pouca agressividade defensiva e muito azar à mistura os pupilos do Prof. Jorge Rodirgues, velha glória do andebol português e europeu, chegaram ao intervalo a perder por 6 golos e todas as tentativas de reduzir essa margem para números perigosos para o Belenenses, revelaram-se infrutíferas.
Apesar do apoio do público e das boas exibições de Pedro Morgado e Milan Stanic o Vitória perdeu o primeiro jogo do Playoff e necessita agora de vencer no Sábado, no Restelo, por qualquer diferença de golos, pode até ser por um, para obrigar a disputa da "negra" que se disputará no DOmingo também pelas 19 horas.
Fazendo jus à fama de apaixonados e aguerridos apoiantes do Vitória e da sua equipa de andebol, estou convicto e esperançado que o apoio verde e branco seja significativo, pelas 19horas no próximo Sábado, no Pavilhão Acácio Rosa, no Restelo.
Num momento em que a ausência de cartazes é assunto de conversa em Setúbal, junto a minha voz a este placard azul, dirigindo-o a todos os sócios e simpatizantes do Vitória: Todos ao Pavilhão do Belém!!!
Eu farei a minha parte.
Saudações Vitorianas
Spry
terça-feira, março 28, 2006
E lá vamos nós outra vez....
O Estádio do Bonfim, palco de tantas e tantas noites de glória verde e branca, viveu na passada Quinta - Feira, mais um episódio que perdurará por muitos e muitos anos na memória de todos os setubalenses e que será contado e transmitido, estou certo, a várias gerações futuras de vitorianos.
O dia começou cinzentão e chuvoso em Setúbal. Durante largas horas e de forma copiosa, a chuva não parou de cair. Os céus abençoavam desta forma a cidade e o palco da segunda meia final da Taça, para aquele que muitos já consideram o jogo do ano.
O cordão verde foi um sucesso, pleno de emoção e fervor vitoriano e constituiu sem sombra para qualquer dúvida o primeiro grande tónico e a primeira injecção suplementar de motivação para os jogadores de verde e branco trajados.
Confesso que as páginas da História, que nos diziam que sempre que o Vitória vence a Taça de Portugal, a defende no ano seguinte no mesmo palco, me deram alguma tranquilidade para encarar com serenidade e muita confiança os dias que antecederam o jogo com o Vitória de Guimarães. Com 95 anos de História não seria desta que iríamos deixar mal os nossos antepassados vitorianos e com muito sangue, suor e lágrimas lá estaremos no próximo dia 14 de Maio a viver a festa de uma das mais míticas competições do futebol à beira mar plantado e onde o Vitória por 10 vezes já garantiu o direito a disputá-la no palco da Final.
Rubinho, Janício, Auri, Veríssimo, Nandinho, Sandro, Ricardo Chaves, Binho, Bruno Ribeiro, Varela, Sougou, Adalto, Carlitos e Pedro Oliveira, são os nomes dos 14 jogadores que na noite de 23 de Março, tornaram possível planearmos novamente uma das mais bonitas festas do luso futebol.
Com Hélio Sousa "empurrado" para a bancada, coube a João de Deus e a Carlos Cardoso orientar e dirigir a equipa. E fizeram-no, se me permitem, de forma exemplar.
A experiência de Carlos Cardoso , homem de muitas finais e muitas noites de glória vividas enquanto jogador com o emblema vitoriano ao peito, aliada ao conhecimento científico, à competência técnica, à irreverência da idade e ao vitorianismo puro e genuíno do João de Deus, fizeram desta meia final a verdadeira final antecipada e proporcionaram ao discípulo do vitoriano Zé Mário uma verdadeira lição de táctica, de querer, de abnegação e de transcendência.
O ambiente em torno da partida era fenomenal e não fora a chuva, o horário, o dia da semana e a transmissão televisiva e seguramente o Estádio teria registado a enchente que a importância do jogo e o carácter dos profissionais do Vitória exigiriam. Não encheu, mas ficou muito bem composto.
A falange de apoio vimaranense, longe dos seis mil apregoados, não deixou de fazer inveja à esmagadora maioria dos clubes portugueses e constituiu sem dúvida um dos aliciantes deste jogo.
Os de Guimarães, há 18 anos arredados do palco do Jamor, onde por 4 vezes tentaram conquistar o troféu, sem sucesso, entraram no jogo determinados a iludir o mau comportamento desportivo no campeonato e a proporcionar aos seus adeptos a viagem até Oeiras no próximo 14 de Maio.
A primeira metade da partida foi algo monótona, com um domínio aparente, porque consentido, do Vitória de Guimarães que se aproximou mais vezes da baliza setubalense, sem no entanto criar verdadeiro perigo para a baliza guardada por Rubinho, excepção feita ao remate de Benachour à passagem da meia hora, a que o internacional brasileiro do VFC correspondeu com aquela que, em circunstâncias normais teria sido a defesa da noite.
O Vitória setubalense nunca se atemorizou e respondeu passados poucos minutos, com um pontapé fantástico de Sandro, a mais de 40 metros, a obrigar o guarda redes Nilson, a voar e com a ponta dos dedos ceder canto. Na sequência do canto, Auri ameaça pela primeira vez as redes contrárias, ao elevar-se com categoria e a cabecear com perigo, para a defesa do guardião vimaranense.
O intervalo chegava com o placard a assinalar um nulo que premiava o rigor e a consistência setubalense e penalizava a inoperância e o pouco discernimento dos comandados de Vítor Pontes.
No segundo tempo, Adalto - bravíssimo, exemplo de raça e galhardia - substituiu o tocado Nandinho - exibição discreta - e foi um dos impulsionadores de todo o futebol verde e branco.
O Vitória reentrou a todo o gás e nos minutos iniciais Sandro, após excelente jogada de Varela na esquerda, desperdiçou, já com Nilson batido, um golo de baliza escancarada, para desespero dos adeptos e do próprio capitão dos setubalenses.
Dado o mote no início da segunda parte, o resto da etapa complementar confirmou as suspeitas iniciais, o Vitória sadino entrava determinado a controlar a partida, assentar o jogo, aniquilar as ofensivas vimaranenses e desferir fulminantes contra ataques aproveitando a velocidade de Sougou e depois de Carlitos, sem grande sucesso em termos de oportunidades claras de golo, mas causando constantes sobressaltos ao Guimarães.
Com o jogo claramente dominado e controlado pelo Vitória, foram os de Guimarães, em cima do minuto 90 a causar pânico nas bancadas do Bonfim, porém o Senhor Auri, imperturbável, sereno, gigante, substituiu Rubinho e todos os seus companheiros de defesa e em cima da linha de golo evitou o que parecia o golo de Saganowski, para desespero agora de toda a superior sul do Bonfim.
E com o nulo a reflectir o equilíbrio entre os dois oponentes, chegámos ao prolongamento com um Vitória mais fresco fisicamente, mais agressivo, mais forte, mais equipa - não me canso uma vez mais de realçar o notável e espectacular trabalho do Prof. João de Deus ao longo dos últimos 2 anos - que deixava adivinhar que seria no prolongamento que os sadinos desfeririam, à semelhança da meia final do ano passado, o golpe mortal nas aspirações dos comandados de Vítor Pontes.
Com Pedro Oliveira a render Bruno Ribeiro ( notável gestão do plantel e cirúrgicas substituições) o Vitória de 1910 afirmava peremptório que não se intimidaria com a superioridade teórica do Vitória de 1922 e de forma abnegada lutou e sofreu para que a presença no Jamor voltasse a ser uma realidade um ano depois.
Apesar da emoção,a primeira parte do prolongamento continuou sem render golos e quem estava no Bonfim e os milhões que em casa, espalhados pelo globo, assistiam pela televisão preparavam-se para 15 minutos inesquecíveis. Pela incerteza, pelo drama, pela glória, pelas emoções vividas, pela contraditoriedade de estados de espírito vividos em tão curto espaço de tempo.
Aos 108 minutos, um grito de alegria de quase 4 mil espectadores, motivado pelo cabeceamento certeiro do polaco Saganowski ( na sequência de um livre inexistente que só Paraty descortinou), gelou os vitorianos e setubalenses e transportou-os para um pesadelo do qual muitos temiam já não acordar. Os mais desalentados, que serão talvez os que mais sofrem por amor ao clube, incapazes de prolongar o pesadelo durante os 10 minutos que ainda faltavam começavam a sair do estádio, sob o olhar, já com lágrimas, dos que continuavam a acalentar o sonho de repetir a presença na festa do Jamor.
O anti-jogo mesquinho, próprio dos pequenos e incapazes, protagonizado pelos jogadores do Guimarães depois de se terem posto em vantagem, somado aos gritos de vitória antecipada e aos insultos e provocações dos adeptos nortenhos tornaram ainda mais saborosos e justos os momentos épicos que os vitorianos de Setúbal ainda tinham para viver.
Nunca baixando os braços, apesar de incrédulos com o que lhes havia sucedido, os jogadores do Vitória sentindo o peso da responsabilidade e quiçá o aroma das sardinhas no Jamor ali tão perto, fizeram das tripas coração e lançaram-se desenfreadamente ao ataque, à excepção do guarda redes Rubinho, que ficou cá atrás de joelhos a meter uma cunha sabe-se lá a quem, e numa jogada de insistência do colectivo vitoriano Adalto lança para a direita da área onde o raçudo e esforçado Pedro Oliveira descobre uma nesga para cruzar para o interior da pequena área onde aparece qual D. Sebastião vindo da névoa para nos encher de esperança, o Senhor Auri a desferir um pontapé, que só não furou as redes da baliza porque são feitas da mesma forma que as da pesca.
A ansiedade, a tristeza, a frustação e a desilusão, que se apoderaram dos vitorianos de Setúbal ao minuto 108 do prolongamento, contrastando com a euforia e alegria dos vitorianos de Guimarães, deram lugar neste momento a um dos mais sofridos e desesperados gritos de golo alguma vez ouvidos no Bonfim, cujos décibeis ecoaram por toda a cidade, do forte de S. Filipe ao castelo de Palmela.
Nas bancadas novos e velhos, homens e mulheres até então desconhecidos abraçavam-se e saltavam numa comunhão de sentimentos e alegria que só o futebol e o sentimento vitoriano tornam possível compreender.
Há muito que não se sofria tanto no Bonfim ( e como se tem sofrido naquele estádio) e aquilo que nos esperava - desempate por penalties - já não acontecia na catedral setubalense, seguramente há mais de 10 anos e a última vez terá sido no extinto e saudoso torneio veraniego Costa Azul.
A abrir as hostilidades o gigante setubalense, Senhor Auri, dirigiu-se para a marca de penalidade confiante, sereno, no seu jeito algo desengonçado e sem dificuldades e com demasiada categoria para um defesa central colocou o Vitória em vantagem. O outro Vitória, logo no primeiro penalty desequilibrou a igualdade e por intermédio de Cléber, desperdiçou com a bola a embater estrondosamente na barra, para nova explosão de alegria nas bancadas do Bonfim.
Os menos avisados pelas euforias antes do tempo, já comemoravam e festejavam triunfantes, quando um dos melhores do Vitória, Adalto, ao pontapear o que lhe competia, atirou por cima da baliza para desespero de milhares no Bonfim e milhões no planeta. Moreno, pelo Guimarães restabeleceu a igualdade.
A vantagem setubalense foi novamente possível depois da execução superior de Pedro Oliveira .
O Guimarães tentaria através de Geromel empatar de novo o jogo, mas de forma notável Rubinho começava a pagar o favor que havia rogado de joelhos minutos antes e dava novamente motivos para sorrir aos vitorianos setubalenses, após a excelente defesa rubricada.
Quando a ninguém passava pela cabeça nova oferta setubalense, Binho ( mais uma grande exibição plena de entrega, dedicação e competência) imita o companheiro Adalto e volta a enviar a bola para perto do VIII Exercito magnificamente instalado na Superior Norte. Paíto, um dos melhores do Guimarães, volta a devolver a esperança aos minhotos ao converter superiormente o que lhe tocou e Carlitos, no quinto cumpre e marca e deixa o Minho e o Sado em suspenso, para o último penalty desta série.
De um lado Paulo Sérgio determinado a evitar que o jogo terminasse ali, do outro, Rubinho, que depois de ver as suas preces ouvidas sabia que tinha de pagar a factura pelos serviços prestados. Com uma postura fria e com uma querença e confiança inabaláveis, mirou olhos nos olhos o seu oponente, pensou: " Vou já acabar com isto" e voou para a defesa que o converteu no novo herói vitoriano, nos deu a todos o passaporte para o Jamor e permitiu que finalmente pudéssemos gritar, vibrar e saltar com lágrimas de alegria e felicidade, num momento único, inesquecível, de imensa satisfação.
São momentos de profunda emoção, de profundo sentimento vitoriano, onde nos lembramos do orgulho que temos em ser do Vitória, em que nos lembramos de todos os momentos em que foi difícil ser Vitória, em que recordamos todos os sacrifícios e privações que por Ele fazemos e em que voltamos a soluçar e a chorar por todos os vitorianos ausentes e os já desaparecidos que connosco partilharam tristezas e alegrias e que nos tornaram nos vitorianos que hoje somos e na pena que temos por hoje não poderem estar a nosso lado a vibrar com mais este brilhante e histórico feito do Enorme Vitória Futebol Clube.
Para os milhares de adeptos do Guimarães familiarizados com os conceitos de desportivismo e urbanidade, a minha palavra de apreço e admiração pelas comoventes manifestações de apoio ao clube, à semelhança do que os adeptos do VFC fazem há muitos e muitos anos.
Também nós setubalenses e vitorianos da geração sub-30, penámos e palmilhámos muito para hoje podermos estar a viver estes momentos, também nós há cerca de 7 ou 8 anos, numa noite invernosa e chuvosa de Quarta-feira, literalmente invadimos Aveiro, para cumprir o sonho de uma geração, e fomos impedidos de ir ao Jamor, não por qualquer infortúnio ou culpa própria, mas por uma arbitragem vergonhosa do mesmo senhor que no passado 29 de Maio foi obrigado a contemplar e admirar o Hélio e o Sandro a erguerem o caneco, mesmo tendo inventado o primeiro e único golo do Benfica, ao assinalar, ainda nem cinco minutos estavam cumpridosl, um penalty inexistente.
Para a História continuará a constar que sempre que o Enorme Vitória Futebol Clube ganha o troféu, repete no ano seguinte a presença na final. Diz-nos, porém a história também, que sempre que tal acontece o Vitória não repete o triunfo. Mas diz o povo e com razão e neste momento diz-se em Setúbal com toda a convicção que à terceira é de vez e que a derrota ( diz quem viu, que injusta e sem verdade desportiva) de 68 frente ao Porto será esquecida para dar lugar a nova enchente na Praça do Bocage para comemorar um feito inédito na História do Vitória e que muito poucos comemoraram: ganhar a Taça de Portugal duas vezes seguidas e carinhosamente cantar: És tão boa, és tão boa!!" Recordo apenas, para os fãs dos números e da estatística que a chegada ao Jamor, no que ao combate com primodivisionários diz respeito, foi feito sempre à custa de equipas às quais não tínhamos conseguido vencer para o campeonato: Boavista, Guimarães.... e agora segue-se o Porto, a quem este ano também ainda não ganhámos.
Se o nome do Estádio ainda parece não ser suficiente para que todos percebam que até ao lavar dos cestos é vindima, este jogo tal como outros decididos nos derradeiros momentos, é a prova de que no Vitória, tal como em todas as outras religiões conhecidas, é preciso devoção e fé. Fé na alma sadina, setubalense e vitoriana, Fé no emblema que orgulhosamente ostentamos, Fé nas riscas verde e brancas, Fé na dignidade dos profissionais vitorianos e Fé no apoio e na força que consecutivamente transmitimos aos que galharda e estoicamente envergam a camisola com o símbolo do nosso contentamento.
Saudações Vitorianas
Spry
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