terça-feira, novembro 30, 2004

Ainda não foi desta....




A noite de ontem no Bonfim, que se previa de fortes emoções, saldou-se por uma cinzentona vitória da pior equipa em campo, o Futebol Clube do Porto.

No momento em que vos escrevo estas linhas os sentimentos que me assolam são ainda bastante contraditórios e difusos quanto à melhor forma de ilustrar e retratar a partida de ontem à noite.

Se por um lado, independentemente do poderio do adversário, sou obrigado,ainda que a contra gosto, a questionar algumas das opções de José Couceiro, nomeadamente a inclusão de Ribeiro em detrimento de Nandinho que vinha sendo um dos mais regulares elementos da equipa do Vitória. Se o jeito de Ribeiro para dar entrevistas inconvenientes e destabilizadoras fosse o mesmo que para jogar futebol talvez o resultado ontem pudesse ter sido diferente.
José Couceiro erra também, descarada e incompreensivelmente, no meu modesto entendimento, ao apostar contínua e sucessivamente no extremo esquerdo benfiquista Zé Rui: uma perfeita nulidade - falta de lucidez ofensiva, pouca capacidade defensiva, demasiado individualista, inconsequente e limitado tecnicamente. A seu favor alguma irreverência típica da juventude e velocidade bastante elevada. Dadas as alternativas existentes no plantel não se compreende de forma nenhuma a insistência de Zé Couceiro neste jogador, a não ser que este jogador tenha alguma cláusula no contrato que lhe garanta 60 minutos por jornada.

Feitos os principais reparos à equipa do Vitória e às opções de José Couceiro e já visto e revisto o jogo, ao vivo e na tv, já devidamente analisadas as diversas crónicas desta partida, donde quem as lê conclui que o Porto fez um jogão em Setúbal, porque sofreu, porque se uniu, porque perante a adversidade de ver o "Bicho" expulso ainda antes do intervalo conseguiu segurar a vantagem, porque mostrou fibra de "campeão", a verdade é que, apesar de concordar que assim é que se ganham campeonatos e reconhecer a incapacidade e impotência ontem demonstradas pelo Vitória de marcar um golo, não posso deixar de sorrir ironicamente quando recordo as crónicas e as críticas às exibições da equipa setubalense no último ano em que, comandada pelo actual adjunto Carlos Cardoso, se qualificou para as competições europeias há 5 anos. Recorde-se como exemplo o resultado obtido em Alvalade ( 0-0 ), numa partida onde o Vitória foi crucificado, pelos opinion makers por ter assumido uma postura idêntica à do FCP de ontem.

Se nós, vitorianos, estamos desiludidos com o resultado de ontem, e estamos, sou contudo, de opinião que devemos estar também orgulhosos com a prestação da equipa do Vitória, pois também demonstrou ser uma equipa unida, coesa, com grande carácter e enorme personalidade. Se retivermos como dados, que os sadinos são o plantel mais barato da SuperLiga e que o porto para além de ter a mais cara equipa de Portugal é actualmente o campeão nacional e europeu em título, quando analisamos os números da partida do Bonfim ( VFC - 50 ataques FCP- 19; 53% de posse de bola para o Vitória contra 47% do Porto, 15 remates dos sadinos contra 12 dos portistas) não podemos deixar de concluir que os comandados de Couceiro se mais não fizeram foi por que não foi possível.

Foi uma partida com duas partes distintas. Na primeira o Porto conseguiu, a espaços, dar um ar da sua graça. Ao mesmo tempo que os defesas nortenhos se ocupavam de anular as investidas perigosas de Jorginho, Igor e Manuel José, os seus criativos, sobretudo Quaresma chegaram a causar pânico na defensiva de Marco Tábuas. Decorria metade da primeira parte quando, na sequência de uma falta não assinalada pelo árbitro contra o Porto, o Vitória cede canto. Na pequena área, solto de marcação, Jorge Costa respondeu sim ao canto de Diego e inaugurou e sentenciou o marcador.
O Porto mais retraído continuou, de quando em vez, a subir com perigo, mas Marco Tábuas chegou para as encomendas. Aos 42 minutos Jorge Costa é bem expulso, após canalhamente ter pontapeado Jorginho e até ao intervalo o Vitória sufocou o atarantado Porto de Fernandéz com lances rápidos e bem delineados que nunca tiveram o acertado desfecho por parte dos jogadores do Vitória.

A segunda parte foi, em minha opinião, uma vergonha para quem gosta de futebol e para quem legitimamente exigia que no mínimo, o Porto procurasse jogar futebol com o recém promovido Vitória. Porém aquilo a que assitimos ( substituição de Quaresma por Pepe) foi pura e simplesmente ao abdicar de jogar à bola por parte do Porto e ao total controlo da partida por parte do Vitória.
Só que a equipa do FCP revelou ser quase inultrapassável para o conjunto vitoriano, que dominou por inteiro os acontecimentos, não se lançando desesperadamente nos chuveirinhos para a área, antes procurando jogar um futebol bem desenhado, com a bola pelo chão a circular por todos os jogadores, de modo a procurar os espaços, sobretudo pelos flancos, que abririam caminho para as redes defendidas por Nuno Espírito Santo.
A verdade é que ontem o Vitória não teve nem a felicidade, nem a arte suficientes para encontrar esses espaços e empatar o jogo, para posteriormente o poder ganhar. A verdade é que o guarda redes do Porto pouco trabalho teve e na única oportunidade em que Meyong, superiormente desmarcado por Manuel José, iria rematar isolado na cara do golo, sofre falta na grande área e o árbitro não viu. Teria sido o empate que, em meu entender teria permitido ao Vitória ainda poder ganhar o jogo e impedir um resultado injusto.

Este Vitória, quando os Searas e afins já adivinham a perda de fulgor da equipa setubalense, mantém intocáveis e inalteráveis os predicados que o têm feito como equipa sensação do campeonato e vai, tenho a certeza, continuar a espalhar magia pelos relvados nacionais e obter uma classificação final que fará deste Vitória um case study do futebol europeu.

Saudações Vitorianas
Spry

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