Numa semana vivida na ressaca do clássico de Domingo na Luz, descobri num jornal ABOLA desta semana um comentário digno de nota, destaque e respectiva difusão por todos os meios da comunidade vitoriana, até porque foi escrito por um dos maiores jornalistas portugueses de sempre, um dos poucos ainda vivo, falo-vos do gigante Homero Serpa
Por entender que a qualidade do artigo, o carinho e encanto com que fala no Vitória, assim o justificam, não podia deixar de aqui o transcrever.
Divirtam-se:
A outra novidade futebolística é muito mais agradável. Trata-se da excelente carreira do Vitória FC, mais popularmente Vitória de Setúbal, com brazão destacado no armorial do futebol português, pioneiro do jogo da bola em Portugal, digno parceiro das equipas que disputavam o Campeonato de Lisboa, um clube interessante. Nunca ouvi a ninguém de Setúbal reivindicar o estatuto do 4.º maior clube nacional, e isto quer dizer que os setubalenses não caem em frases parolas, sem nexo, e que até caracterizam com óbvia ausência de personalidade quem as repete. Cada clube tem a sua identidade, o seu passado, o seu presente e terá o seu futuro, parece-me sintoma de inferioridade essa história do quarto clube porque as associações não se medem pelos resultados dos jogos de futebol, medir-se-ão muito mais pela expressão do seu eclectismo e projecção do nome pelo País e pelo Mundo. Mas nada disto perturba o Vitória. Falando de futebol, a velha glória chamou a si a fulgurância das exibições e dos resultados, dá gosto vê-la jogar, as coisas podem, no terreno, sair-lhes bem ou menos bem, mas o Vitória tem um estilo, tem aquilo que, há algum tempo, os especialistas consideravam o fio de jogo. Fez-me recordar o Vitória do Fernando Vaz, depois do Pedroto, um futebol rendado, enleante, que eu vi nascer no Campo dos Arcos e depois viver no Bonfim. Assisti a grandes espectáculos proporcionados pelos vitorianos e, obviamente, aos percalços que o impediram de chegar ao título nacional, apesar de ser a melhor equipa. Fixei os nomes dos seus futebolistas, entre eles o inconfundível Jacinto João, acompanhei a equipa em digressões pela Europa, África e América, era uma máquina de produzir um futebol suave, harmonioso, empolgante. Muitas vezes, tive ocasião de felicitar o João Lúcio porque no companheiro de décadas e de excursões, prestigiado correspondente de A BOLA em Setúbal, também via um dos obreiros da formação das equipas setubalenses. É o herdeiro desses tempos inolvidáveis que está em campo, independentemente do que possa fazer no Campeonato, em termos de classificação, arrisco a presciência de que continuará a ser um conjunto que do futebol é capaz de fazer um espectáculo delicioso.
Saudações Vitorianas
Spry
Sem comentários:
Enviar um comentário