terça-feira, outubro 07, 2003

" O caso Saltillo" Parte I

Quantos de nós, fanáticos da bola, nascidos nos 70s, se lembram do México-86? Quantos de nós, na altura chavalos com 8, 10,12, 14 anos de idade sabem efectivamente o que quer dizer " o caso Saltillo"? Quantos de nós muitas vezes ao ouvir pronunciar o nome dessa tristemente célebre localidade mexicana, sabemos o que lá aconteceu?
Para lá do duelo do avançado do bigode ( característica que muito aprecio nos goleadores e infelizmente caída em desuso) com o mítico Shilton ter sido vitorioso para as cores portuguesas e de nos ter posto novamente a sonhar, para lá do golo do Smolarek que nos fez vergar perante a Polónia e para lá da humilhação frente aos marroquinos ( apesar do belo chapéu de Diamantino) muito mais há para saber.
As noites de Saltillo, as "liberdades" e os "excessos" dos jogadores, a desorganização e a incompetencia federativa, as reivindicações dos atletas, a greve. Sobre tudo isto me extender por uns quantos posts, ajudado pelos meus arquivos, espero que disfrutem tanto como eu.
Vou tentar ajudar os menos esclarecidos, ou os menos atentos às questões extra-futebol, a perceber porque é que Saltillo ficou tão famoso no mapa futebolístico nacional.

Convém lembrar que, como costume, chegámos à ultima jornada da fase de apuramento a depender para além de uma vitória em Estugarda frente à já apurada Alemanha, de uma quase impossível derrota da Suécia na Checoslováquia. Ficou célebre a frase do então Seleccionador José Torres ( ponta de lança mortífero do meu Vitória, entre outros emblemas, ainda hoje recordado à beira sado por quem teve o privilégio de o ver vestir a camisola do Vitória): " Ao menos deixem-me sonhar". Torres sonhou, o País sonhou com Torres e Carlos Manuel com um pontapé que ele e nós jamais esqueceremos, colocou 20 anos depois Portugal num Mundial de futebol.

Eu hoje pergunto-me se o País e especialmente, se a Federação Portuguesa de Futebol estaria preparada para estar à altura do evento. Os factos e a história dizem-me que não. E se pensarmos um bocadinho e fizermos a mesma pergunta relativa à nossa participação no Mundial da Coreia e do Japão, provavelmente a resposta será a mesma.

Depois do apuramento, havia que preparar a ida. Locais de estágio, jogadores a seleccionar, comida a levar, cozinheiro, hoteis, bolas, enfim toda uma panoplia de logística que era necessária assegurar.

A grande preocupação inicial e a questão que provavelmente mais tempo fez os responsáveis perderem foi a questão da altitude. No país e no seio da selecção a preocupação era a altitude. A escolha foi Saltillo porque os responsáveis da altura entenderam que, em caso de apuramento para a 2ª fase, Saltillo em termos de altitude seria o local mais adequado. Mas Portugal não chegou à 2ª fase e Saltillo não foi uma boa escolha.
Mas será que se a escolha tivesse sido outra os resultados teriam sido diferentes?
Analisemos o hotel escolhido. Desde logo a comitiva portuguesa, desprevenida e pouco experiente na participação em eventos similares, não se precaveu e teve de partilhar o hotel com um batalhão de jornalistas portugueses e ingleses,estes últimos acompanhavam a Selecção do seu país que pernoitava no Hotel do outro lado da estrada. Não seriam apenas os jornalistas a perturbarem o sono da comitiva, pois os hábitos putanheiros dos homens do futebol em Portugal não são de agora e já então a presença das profissionais do amor era bastante assídua e solicitada pelos craques da bola.
O campo de treinos era a descer, ou a subir. Conforme. Se fosse na 1ª parte ou na 2ª. Tanto tempo que perderam com a altitude, que se devem ter esquecido de verificar pormenores como o da inclinação do campo onde treinavam.
E em breve voltarei a abrir " o caso Saltillo"
Spry

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