terça-feira, outubro 14, 2003

" O caso Saltillo " Parte IX

De repente paira no ar, ideia inteligente e intencionalmente feita passar pelos dirigentes, de que podia estar em risco o Inglaterra-Portugal. Bem como as consequências daí advenientes como o afastamento por vários anos das competições internacionais, segundo as regras da FIFA.
Havelange dá a mão ao amigo Silva Resende e manifesta-lhe apoio à posição da FPF.
Os jogadores, paesar de hesitantes, começam a tomar consciência de que mais não podiam fazer e teriam forçosamente de recuar.
A questão era: "como fazê-lo sem perder a face?". Ajudados e aconselhados por alguns jornalistas da sua confiança, os jogadores redigiram um extenso comunicado e convocaram a imprensa.
A noite é longa e agitada nos corredores do Hotel La Torre e no dia seguinte a imprensa de todo o mundo estava em Saltillo a cobrir a tomada de posição dos atletas portugueses. A sala enorme é pequena para tanta gente. televisões internacionais, dezenas de rádios de todo o mundo, centenas de jornais e nem um dirigente federativo presente a essa hora no hotel.
Bento é o porta voz do grupo e lê o comunicado donde se extraem os seguintes excertos:
" Como é do conhecimento geral, demos um prazo até hoje, para que a FPF... dialogasse connosco. Até ao presente... ninguém deu qualquer resposta à vontade e necessidade que temos de dialogar"

" ...consideramos ser um direito da classe dos jogadores de futebol o diálogo com a Federação, para mais tendo em conta a importância e significado de uma representação nacional..." " No fundo o que está em causa é a dignidade moral do jogador de futebol e é por ela que lutamos para que mais tarde outros profissionais de futebol não sofram o que nós estamos a sofrer"

"... a reunião havida em Lisboa... só revela a má-fé demonstrada pela FPF, porque mais uma vez quis resolver o assunto sem dialogar com os futebolistas."

" Para que não restem dúvidas... esclarecemos as condições em que nos mandaram para o México:
1- 4 mil escudos de diária
2- 100 mil escudos de prémio de presença em cada jogo na fase inicial, se formos afastados da competição
3-200 mil escudos, dados pelo sr. Joaquim Oliveira e não pela FPF, para envergarmos, nos treinos e nos eventuais jogos de preparação, camisolas com publicidade de determinada marca, quando a Federação, segundo consta, recebrá cerca de 25 mil contos; esclarecemos que, em 1984, no Campeonato da Europa, recebemos quase o dobro desta verba, paga pela Federação.
4- Obrigatoriedade de usarmos, diariamente, roupa de uma marca desportiva, sem qualquer compensação monetária"

"... os profissionais de futebol não são crianças, às quais se dão reguadas e se impõem castigos, nem mentecaptos manejados a bel-prazer de quem ocupa cargos directivos."

E depois concluem:

"
a) Comparecer ao treino de amanhã(...)
b)Prosseguir os treinos com vista ao Campeonato do Mundo(...)
c) Constituir nosso interlocutor José Torres e pedir-lhe que sirva de elemento de ligação entre os jogadores e o sr coordenador...
d) Afirmar a todos os nossos compatriotas a determinação que temos em lutar, com a maior energia, vontade, e espírito de sacrifício, por resultados desportivos que nos dignifiquem enquanto homens e enquanto portugueses
e)
f)
h) Considerar que obtivemos uma grande vitória, da moral e da liberdade, ao conseguir desmascarar esta situação...
i) Provar que não é a questão financeira que nos perturba, mas sim o facto de não nos tratarem como pessoas, com cabeça para pensar e coração para sofrer
j) Finalmente, gostaríamos de considerar este assunto encerrado, por agora ( a ele voltaremos na hora própria e no local próprio), a fim de nos dedicarmos, por inteiro, aos treinos e aos jogos do Campeonato do Mundo"
Tudo está bem quando acaba em bem.
Spry

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