quarta-feira, outubro 08, 2003

" O caso Saltillo" Parte VI

Como calcularão cada vez mais se nota a degradação no seio da comitiva.O ambiente torna-se cada vez mais pesado, a autoridade e a disciplina quase não se fazem sentir.O estágio está-se a revelar um martírio, um fardo demasiado pesado para carregar em terras mexicanas e nem os dotes vocais do Dr. Camacho Vieira acompanhado ao piano por André, ajudavam a amenizar a atmosfera.

As primeiras divergencias entre jogadores e dirigentes começam a fazer-se notar. Os jogadores com sobradas razões de queixa das condições em que se encontravam. Os dirigentes começam a perder crédito junto dos atletas.
Amândio de Carvalho está cada vez mais sózinho.Finalmente consegue convencer o Secretário Geral do Comité Executivo a visitar o quartel general português. O Sr. Echevarria era tido como a solução para todos os problemas e dificuldades da comitiva nacional.
Echevarria deleita-se com o bacalhau do Sr. Evaristo, que acompanhou superiormente com um vinho alvarinho do qual ainda hoje guarda gratas recordações. Bem comido e bem bebido o Sr. Echevarria confessa-se: "não há nada a fazer, até ao início do Mundial apenas será possível disponibilizar equipas amadoras.
Ninguém queria acreditar.

Entretanto começavam a circular em Potugal notícias pouco abonatórias do comportamento dos jogadores, sobretudo dos casados.O que levou Manuel Bento a convocar uma reunião de urgência com os jornalistas, pois seriam estes que estariam a transmitir as informações de que havia mulheres mexicanas no estágio.
A questão não era discutir a veracidade das informações,pois toda a gente sabia que era verdade.
O que era urgente era que as mulheres dos jogadores tranquilizassem o mais possível, pois durante a noite os telefones não paravam de tocar nos quartos da Selecção. Obviamente, que elas queriam saber o que se estava a passar.

Mas o mulherio de Saltillo há muito que havia descoberto os encantos de permanecer junto da comitiva nacional. Ao contrário dos ingleses, que viviam enclausurados e distantes no hotel em frente, os portugueses eram alegres, divertidos, latinos, atrevidos e estavam à mão de semear numa cidade mexicana onde nada acontecia. Os guardas do hotel há muito que haviam deixado de
guardar, cada vez mais entretidos com as cervejas e os charros...

Ao fim de duas semanas de "intensa" preparação José Torres concedeu uma noite de Sábado livre, sem restrições de horas nem de movimentação, noite livre para fazerem o que lhes apetecesse.
Porém um dos elementos da selecção acabara de chegar do hotel dos ingleses e vinha bastante assustado. Veio a fugir, em correria desenfreada, de um mexicano ciumeno acompanhado de uma bonita mulher e uma faca. A preocupação e a inquietação surgiram nas mentes dos responsáveis portugueses: " E se acontece alguma coisa grave a um jogador?"
As mexicanas não pareciam ter problemas com os ciúmes e a situação era de facto de extremo perigo.
Alguém, porém, teve a brilhante ideia de sugerir que se deixassem as mulheres entrar no hotel, os jogadores já não teriam necessidade de sair para lado nenhum.
Reservou-se a discoteca do Hotel, localizada no alto do edifício principal, abriu-se a pista, pôs-se a música a tocar e era só respeitar o direito de admissão dos convidados.

Vitor Serpa, enviado de A BOLA, a Saltillo descreve assim esta bizarra festa: " Essa noite de Sábado terá constituído o espectáculo mais surpreendente de toda a minha vida de jornalista. Parece não ter havido mulher de Saltillo que não tivesse correspondido ao convite do baile das "estrelas" portuguesas. Havia de tudo. Jovens e maduras, bonitas e feias. A música a tocar, o baile pegou de estaca. Numa mesa, Torres ( e toda a sua equipa técnica) assistia, como se fosse um pai vigilante, perante a noite dançante da sua filha. Não durou, tal baile, demasiado tempo. Pouco a pouco os pares foram desaparecendo e perderam-se nos labirintos do Hotel la Torre. Alguns, mais aventureiros, saíram para a noite quente de Saltillo, outros descobriram encantos de ranchos desviados do centro do mundo, alguém descobriu mesmo particulares encantos na espalhafatosa mulher do dono do hotel, uma loura enorme, obesa, com quase 100 quilos, e a partir dessa noite não mais passou pela cozinha, sobretudo quando o homem abria, com grandes facas, enormes peças de carne..."

Quando ouvimos hoje as mirabolantes história de Oliveira e sus muchachos, nas noites orientais em pleno estágio para o Mundial, não podemos deixar de esboçar um sorriso e constatar que há coisas que o tempo nunca muda.
Spry

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